Editorial

Vale a pena comemorar?

Uma em cada dez famílias brasileiras está em insegurança familiar. O número, apesar de comemorado por apontar redução da fome no País, ainda é gritante: 20 milhões de brasileiros convivem com a redução na quantidade de alimentos consumidos ou com a ruptura em seus padrões de alimentação. Dentro desses dados, 8,6 milhões estão em situação grave, convivendo diretamente com a fome. Ou seja, os dados divulgados ontem pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, deixam um gosto agridoce: muito se avançou, mas ainda há um caminho gigantesco a ser percorrido.

Não é, nem jamais será, aceitável um único indivíduo dormir com fome. É a falência da humanidade quando isso acontece. Multiplique isso por 8,6 milhões e temos um número digno de chorar observando. Além disso, mais quase 12 milhões não se alimentam corretamente. Sim, houve avanço significativo em relação ao levantamento de 2019, mas ainda estamos piores do que em 2014.

Infelizmente, os dados da Pnad Contínua são por amostragem geral e não explicam como está o retrato aqui na Zona Sul. Mas basta circular na rua para ver que o cenário por aqui é triste. Ainda estamos longe de cenários apocalípticos que se veem em capitais, como São Paulo e Porto Alegre. Entretanto, já começa a saltar aos olhos, como abordado pelo Diário Popular há duas semanas, o aumento da população em situação de rua. A ponto de, por exemplo, canteiros da avenida Bento Gonçalves estarem apresentando cada vez mais barracas de pessoas vivendo de improviso por ali. E fora esse cenário extremo, assusta também que dentro dos lares muitas vezes a panela esteja vazia, ou pelo menos sem alimento com qualidade nutricional o suficiente para um desenvolvimento sadio.

Em um País que se orgulha tanto de ser produtor de alimentos, é um absurdo que ainda tenhamos pessoas sofrendo com o fantasma da desnutrição, da falta de alimentos, de revirar o lixo. Governantes e seus publicitários certamente vão pegar os dados divulgados ontem pelo IBGE e comemorar. Digno de comemoração só será o dia que resolverem de fato esse problema. Até lá, todo político deveria conviver com a vergonha de saber que o seu povo está passando necessidades básicas. Enquanto houver esse cenário, todo gestor que está aí ou já passou, falhou em algum nível.


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